quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

D. Carlos de Bragança:Pai da Oceanografia Portuguesa e "Rei Sábio" aberto ao Mundo

[ «As numerosas investigações oceanographicas, que as nações estrangeiras têem realizado n’estes últimos annos, com tão profícuos resultados, a importancia que esta ordem de estudos tem para a industria da pesca, uma das principaes do nosso paiz, e a excepcional variedade de condições bathymetricas, que apresenta o mar que banha as nossas costas, sugeriram-nos no anno findo a idéa de explorar scientificamente o nosso mar, e o dar a conhecer, por meio de um estudo regular, não só a fauna do nosso plan’alto continental, mas também a dos abysmos, que, exemplo quasi unico na Europa, se encontram em certos pontos, a poucas milhas da costa.» Com estas palavras o Rei D. Carlos iniciou a publicação (1897) dos resultados preliminares do seu primeiro cruzeiro em Setembro de 1896, a bordo do iate Amélia, assim chamado em honra da sua Rainha.D. Carlos de Bragança reinou entre 1889 e 1908. Era uma pessoa muito inteligente e sensível, bastante interessado em todos os aspectos do humanismo. Era um pintor talentoso e até publicou um catálogo das aves de Portugal, sumptuosamente ilustrado. Como ele próprio escreveu, nutria desde a infância a passion de la mer [paixão pelo mar], era pois natural que um dos seus interesses fosse o mar e tudo o que aí residia. As actividades oceanográficas de D. Carlos foram mostradas ao público em várias exposições nacionais e internacionais. Espécimes, redes, instrumentos e desenhos, tudo foi cuidadosamente preparado por Girard para ser exibido nas exposições de 1897, na Escola Politécnica, 1898 no Aquário Vasco da Gama, 1902 e 1903-1904 no Porto, 1904 na Exposição Oceanográfica Internacional na Sociedade de Geografia de Lisboa e finalmente em 1906 em Milão. Depois da morte do Rei muitas peças foram ainda exibidas no Rio de Janeiro. D. Carlos também enviou algum material dos seus cruzeiros (peixes e invertebrados) para as colecções do Museu Nacional de História Natural de Paris e para o Museu Britânico (História Natural). Estes espécimes ainda existem. A actividade oceanográfica do Rei D. Carlos de Bragança abriu as portas a uma disciplina completamente nova em Portugal.Para um homem sempre preocupado com problemas políticos sérios é notável que tenha encontrado paz de espírito para realizar actividades científicas. Estas foram para ele o «meu repouso e a minha recreação» como escreveu ao Príncipe Alberto. «O monarca sábio» como lhe chamou o Príncipe do Mónaco, foi sem dúvida o pai da oceanografia portuguesa. Foi assassinado nas ruas de Lisboa, pelos seus oponentes políticos, em 1 de Fevereiro de 1908, no seu 45º ano de vida – uma morte trágica para o campo de exploração que tanto o apaixonou.]
in Ciência em Portugal - Personagens e Episódios. Instituto Camões 2008.

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